LOUISE


Informo o embaixador da minha decisão. Ele parece angustiado, mas não me ordena directamente que apanhe o próximo barco para França. De momento, pelo menos, parece que eu ainda sou a sua melhor esperança.

– E como pretende conseguir isso? – quer saber. – Através da razão e de debate educado?

– Em parte. E, em parte, invocando os desejos da sua falecida irmã.

– Não é apenas uma questão de persuadir o rei Carlos da necessidade de uma guerra. Ele terá de desafiar o seu próprio parlamento, o que envolverá um risco considerável para a posição dele.

– Os parlamentos podem ser dissolvidos.

Mon Dieu… tenha cuidado – diz ele, debilmente. – Foi assim que o pai dele ficou sem cabeça.

– Subornados, então. Por aquilo que vi de Inglaterra até agora, todos têm o seu preço.

– Tanto suborno, mademoiselle, apenas para salvar a sua honra? – diz ele, laconicamente.

– Tanto suborno para alcançar o nosso objectivo. Afinal de contas, não creio que a minha honra, só por si, bastasse para persuadir o parlamento da necessidade de entrar em guerra, não lhe parece?

*

Depois de ele sair, aproximo-me da janela e tento acalmar-me.

Isto é novidade: encontrar-me com um embaixador e vergar a vontade dele à minha. Mais ainda, reformular uma sugestão – quase uma ordem – do meu próprio rei. Não desafiei Luís, exactamente – isso seria muito insensato – mas estou a deixar bem claro que eu, uma simples mulher, vou fazer isto à minha maneira.

Na melhor das hipóteses, ser-me-á permitido tentar. Se falhar, as consequências podem ser ainda mais desagradáveis do que ser enclausurada num convento

Penso também noutra coisa: Madame não teria falado com um embaixador desta maneira. Madame confiava sempre nas pessoas, acreditava na sua bondade, fixava-as com a radiância do seu olhar até a pessoa com quem estava a falar ficar presa na força da sua convicção.

Contudo, começo a perceber que eu não sou assim.

Volto para junto do cravo. O banco é também uma arca para guardar as folhas de música. Levanto a tampa estofada e procuro algo no fundo da pilha.

As Posturas de Aretino: um relato verdadeiro dos Métodos libidinosos e das diversas Posições usadas por uma suposta Senhora, recentemente chegada de França.

Pornografia, enfiada por baixo da minha porta. Nem sequer tentaram que a pessoa das imagens se parecesse comigo, mas é essa a sugestão.

Porque será, pergunto-me, enquanto folheio as páginas, que há tanto espalhafato por causa das maneiras como uma pessoa se deita para copular? Que importância poderá ter se estamos à direita ou à esquerda, ou de pé, ou sentadas? E o que poderia convencer alguma mulher de que acocorar-se em cima de um homem, como se ele fosse um penico, é uma forma decente de se comportar? Estremeço. Quanto às últimas imagens, as que incluem mais de uma mulher, ou mais de um homem…

Contudo, por algum motivo, não consegui atirar o panfleto para as chamas. Há qualquer coisa nos desenhos, apesar de toda a sua grosseria, uma espécie de prazer vulgar, que fascina e repele ao mesmo tempo.

E inclui algumas instruções.

Oiço a voz de lady Arlington na minha cabeça. O rei é um amante exímio. Talvez a cópula seja, afinal de contas, como o ténis; um jogo que tem de ser aprendido, como qualquer outro, inicialmente confuso mas bastante simples depois de dominarmos as regras.

E eu nunca encontrei um jogo no qual não consiga vencer.

Penso: será que quero mesmo casar – tornar-me a égua de procriação de algum nobre, obrigada a fazer isto sempre que ele quiser – quando podia, em vez disso, ser a confidente de um rei?

E ao pensar em como a parada neste jogo está a subir – como o abismo de ambos os lados é cada vez mais profundo – fico surpreendida, e bastante curiosa, ao perceber que aquilo que sinto não é tanto medo, ou repugnância, mas excitação: a emoção de alguém que entra num campo de ténis e sente o peso da raquete na mão.

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