LOUISE


Não há qualquer abrandamento. Pelo contrário, mordem-me os calcanhares de todos os lados. Arlington, Luís, Louvois… Até as minhas damas de companhia foram subornadas para me sussurrarem ao ouvido enquanto me penteiam ou estão de vigia junto às janelas, na esperança de um vislumbre do rei. Como ele é belo, mademoiselle tem tanta sorte, lembro-me da minha primeira vez, é um prazer deitarmo-nos com um homem como este…

Colbert visita-me todas as tardes. Hoje, porém, tem algo delicado para me dizer. Espera até estarmos a sós.

– Sua Majestade honrou-me com a sua presença num pequeno jantar em minha casa, ontem – murmura.

– Espero que tenha sido uma noite agradável.

– Sim, de facto. – Colbert parece não saber bem como continuar. – O rei Carlos ficou bastante relaxado com o progredir do serão.

– Relaxado?

– Quer isto dizer, que se aliviou.

– Falou sobre mim?

– Não directamente. Uma das criadas que nos serviu o jantar era uma rapariga da Gasconha. Talvez já a tenha visto? Uma jovem muito bonita.

Garanto-lhe que nunca reparei particularmente nas criadas do embaixador.

– Sua Majestade reparou nela. Na verdade, sentiu-se tão… à vontade na minha companhia, que mais para o final da noite perguntou se a rapariga poderia juntar-se a nós.

Ergo as sobrancelhas.

– Sua Majestade fez-me a honra de me mostrar que confia ao máximo em mim.

– Compreendo.

– O que se seguiu… Foi um deboche sem entraves – diz, debilmente. Une débauche très libre.

Na verdade, começo a compreender, um pouco. As palavras da sua ex-amante mascarada ecoam-me nos ouvidos. Um libertino, como os outros.

– Aguardo ansiosamente pelo dia em que o ardor de Sua Majestade possa ser temperado pela sua influência. Estou certo, Louise, de que seria uma força defensora da moralidade no meio de toda esta escuridão. – Continua, com alguma hesitação. – O problema é que parecemos ter chegado a um impasse.

– Como assim?

– Sua Majestade parece ter percebido que a Louise não é a única com argumentos para negociar.

– Ele quer negociar?

– Por assim dizer. Antes de deixar a minha residência, deixou bem clara a sua posição.

– Sim? O que tenciona ele oferecer-me, que julgue ser mais valioso para mim do que a minha honra?

Colbert parece agora positivamente atrapalhado.

– Não é a si que ele faz a oferta, mademoiselle. É ao rei… a Sua Majestade Cristã. Carlos pediu-me para deixar bem claro a Versalhes que, enquanto não houver amante, não haverá aliança. E vice-versa. Está a fazer uma proposta bastante directa. Quando a Louise for receptiva às súplicas dele, então pensará no assunto da guerra com os Holandeses. Mas, até lá, nada.

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