Louise


–Sua Majestade Cristã quer saber o quê?

– Se existem, ah… notícias felizes. Se o rei de Inglaterra irá ser abençoado, talvez, com um filho.

– Terá de perguntá-lo à rainha. Não ouvi dizer nada a esse respeito, nem será provável que oiça.

– Na verdade, mademoiselle, eu não estava a referir-me à rainha.

– Então a quem? De quem estava a falar, Excelência?

O embaixador tem a decência de parecer embaraçado.

– Tinha formado a opinião de que as suas excelentes relações com o rei poderiam, talvez, ser…

Olho para ele.

– Inteiramente respeitáveis. E assim permanecerão.

– Compreendo. – O embaixador parece ter empalidecido um pouco. – Então não há nada que eu deva transmitir a Versalhes? O próprio rei pediu um… esclarecimento.

– Pode dizer a Sua Majestade Cristã que estou perfeitamente consciente do facto de que a honra de França depende da honra de cada um dos seus cidadãos. E que nunca, nunca, farei algo para causar descrédito à reputação do nosso país.

– Sim. Sim, com certeza.

– Eu sou Louise Renee de Penacöet, dama de Keroualle, a filha mais velha da família mais antiga da Bretanha. Não uma florista vulgar.

Ele faz uma vénia rígida.

– Somos de facto afortunados por ter entre nós alguém de tão distinta linhagem. E de moral tão irrepreensível, claro.

Bennet, lorde Arlington, para Ralph Montagu, enviado inglês:

Colbert é um idiota: prometeu ao rei de França que o jogo estava quase no fim e agora tem a infeliz tarefa de lhe dizer que ainda mal começou. Contudo, Louvois parece ter as suas próprias fontes e sabe muito mais do que o seu embaixador sobre o que se passa realmente em Whitehall– certamente que sabe o que a rapariga em questão fez ou não fez e, a julgar pelas cartas que vimos, ele disse a Colbert, em termos muito claros, para confirmar os factos antes de enviar mexericos através do correio diplomático. Porém, tudo isto teve como consequência que o embaixador está agora embaraçado e deseja que nós aceleremos as coisas. Naturalmente, deixei-lhe bem claro que pode contar com a nossa ajuda, mas que também está na altura de o seu rei desempenhar o seu papel. Isto deixou-o ainda mais ansioso, pois claro que não pode dizer ao rei o que deve fazer, mas não seria embaixador se não fosse capaz de encontrar maneira de colocar a minha sugestão de modo a que pareça ser ideia do próprio Luís…

Colbert para Sua Majestade Cristã, Luís XIV:

Senhor: é certo que o rei de Inglaterra mostra um caloroso afecto por mademoiselle de Keroualle, e talvez tenhais tido conhecimento, por outras fontes, dos aposentos sumptuosos que lhe foram atribuídos em Whitehall. Sua Majestade dirige-se ao apartamento dela todas as manhãs, às nove horas, e nunca fica menos de uma hora, por vezes duas. Regressa depois de jantar, cobre todas as suas apostas na mesa de jogo e não deixa que lhe falte nada. Todos os ministros cortejam avidamente a amizade desta senhora e lorde Arlington disse-me recentemente que estava muito satisfeito por ver cada vez mais reforçada a ligação do rei a mademoiselle de Keroualle. Lorde Arlington disse-me também que Sua Majestade não é homem de partilhar assuntos de Estado com as senhoras; no entanto, já que elas têm sempre o poder de prejudicar quem não lhes agrada, é muito melhor para os bons servos do rei que Sua Majestade tenha inclinação por esta senhora, que não é pessoa maliciosa e é uma fidalga, em vez de por actrizes e outras criaturas indignas do género, que são sempre uma incógnita. Disse-me ainda lorde Arlington que era necessário aconselhar esta jovem a dedicar-se ao rei, de modo a que ele não encontre outra coisa junto dela senão prazer, paz e sossego. Acrescentou ainda que, se lady Arlington tivesse seguido as suas sugestões, aconselharia esta jovem a ceder sem reservas aos desejos do rei e dir-lhe-ia que não havia alternativa para ela a não ser um convento em França, e que eu devia ser o primeiro a fazê-la compreender isto. Em tom jocoso, respondi-lhe que estou demasiado grato ao rei e não sou idiota o suficiente para dizer a mademoiselle para preferir a religião às boas graças de Sua Majestade; que estava também convencido de que ela não estava à espera dos meus conselhos mas que, apesar disso, lhos daria, para mostrar o valor que lorde Arlington e eu damos à sua influência, e para a informar da obrigação que ela tem perante o meu senhor…

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