LOUISE
É preciso saber lidar com ele, e estou a aprender a fazê-lo. Os negócios entediam-no – o processo do governo, o alinhamento cuidadoso de interesses, a busca de consenso. É um homem de golpes temerários, de decisões súbitas. Nesse aspecto, complementamo-nos um ao outro.
Odeia problemas. Deixa para outros a procura de soluções – ou seja, para mim. Louise, porque é que mais ninguém se lembrou disso? A isto, a resposta honesta, se eu fosse suficientemente tola para a dar, seria: Porque não lhes deu oportunidade.
E depois, se o problema era realmente grande, há um presente: um colar, por exemplo, ou uma peça de prata. Contratei um intendente, Hawton, para as vender discretamente.
As minhas despesas são enormes. Pois o rei, apercebi-me entretanto, não me quer apenas como amante. Nem sou bem uma rainha. Sou antes uma espécie de princesa, como Minette era – pródiga, culta, encantadora, com os meus aposentos sempre cheios de arte e diversão e boa comida francesa. Ele encoraja-me a encomendar tapeçarias Gobelins, taças de vidro, sedas parisienses, perfumes de Grasse e vinhos de Champagne.
Os meus aposentos são a corte com a qual ele sempre sonhou. Quando está comigo, é o rei que sempre quis ser – quer isto dizer que não é Carlos de Inglaterra, mas sim Luís de França, todo-poderoso no seu reino. Já não é rei por condição e consentimento do parlamento: é Carolus Rex, absoluto e arbitrário, o imperador de Inglaterra.
Esta é a mascarada final: poder fingir que as coisas não são como são. Penso que explica o seu amor pelo teatro: ele próprio é uma espécie de actor e, como actores que com ele contracenam, a nossa tarefa é simplesmente manter a peça em cena. O rei não quer as suas ilusões perturbadas pela realidade inconveniente.
Contudo, é amável quando terceiros me tratam mal. Num baile, dou por mim junto de duas mulheres mais ou menos da minha idade. Uma delas é lady Sedburgh; a outra, Caroline de Vere. São inteligentes, estão à vontade com os costumes da corte mas não fascinadas por eles, falam quatro línguas, tocam, dançam e escrevem. Em suma, são precisamente o tipo de mulheres que eu poderia gostar de ter como amigas.
Quando dou um passo na direcção delas, viram-se, fingindo estar imersas em conversação. Paro e depois continuo, como se estivesse apenas de passagem.
E penso: em tempos, eu teria feito o mesmo que elas.
Carlos pergunta-me porque estou distraída. Como uma tola, digo-lhe: ele manda imediatamente chamar as duas mulheres à sua presença.
– Decidi que se juntarão ao séquito de madame Carwell – diz-lhes peremptoriamente. – De hoje em diante, estarão entre as suas damas de companhia.
Vejo o desdém nos rostos delas e penso: Não é a melhor maneira. Sorrio de forma aprovadora, mas tenho o coração apertado.
– Têm alguma objecção? – troa ele.
Docilmente, ambas abanam a cabeça.
– Aquelas com quem me deito são companhia adequada para os maiores deste país – diz ele, mal-humorado. – Podem ir.
Em resultado, claro, sou ainda mais odiada. Não ajuda nada o facto de Arlington andar a chamar-me abertamente uma cabra ingrata. Ingrata! Lady Arlington passeia-se pela corte com um colar de diamantes que, ao que dizem, vale seis mil libras. Quando o elogio, diz simplesmente:
– Oh, foi um presente do seu rei, por a ter enfiado na cama de Carlos.
Sorrio com doçura e digo:
– Nesse caso, tenho de lhe dar também um presente, Elizabeth, pois não imagino maior felicidade do que a que sinto. – Não lhe darei nada, claro. Um colar de diamantes é recompensa mais do que suficiente pelo trabalho de dona de bordel.
E depois, rapidamente, tudo muda outra vez.