8 - SEGUNDA-FEIRA 14 DE FEVEREIRO – SÁBADO 19 DE FEVEREIRO


Dragan Armanskij ergueu os olhos ao ouvir a batidinha dada na porta com a ponta de um sapato e avistou Lisbeth Salander. Ela vinha equilibrando dois copinhos trazidos da máquina de capuccíno. Devagar, ele largou a caneta e empurrou o relatório para o lado.

—Oi - disse ela.

—Oi - respondeu Armanskij.

—Visita de amiga - disse ela. —Posso entrar? Dragan Armanskij fechou os olhos por um segundo. Depois apontou a poltrona dos visitantes. Deu uma olhada no relógio. Seis e meia da tarde. Lisbeth Salander lhe ofereceu um dos copinhos e se sentou. Permaneceram algum tempo se observando.

—Mais de um ano - disse Dragan. Lisbeth assentiu com a cabeça.

—Está chateado?

—Deveria estar?

—Eu não me despedi. Dragan fez um muxoxo. Era um alívio constatar que pelo menos Lisbeth não estava morta. Sentiu também uma violenta irritação, e cansaço.

—Não sei o que dizer. Você não tem nenhuma obrigação de me prestar contas das suas idas e vindas. O que você quer?

Sua voz soava mais fria do que ele gostaria.

—Não sei exatamente. Acho que só passei mesmo para dar um oi.

—Está precisando de trabalho? Não tenho mais intenção de contar com você.

Ela balançou a cabeça.

—Está trabalhando em outro lugar?

Ela balançou novamente a cabeça. Parecia estar procurando as palavras. Dragan esperou.

—Eu estive viajando - ela disse por fim. —Faz pouco tempo que voltei à Suécia.

Armanskij meneou a cabeça, pensativo, e examinou-a. Percebeu de repente que Lisbeth Salander tinha mudado. Havia uma espécie de nova... maturidade na escolha das roupas e no comportamento. E também tinha posto um enchimento no sutiã.

—Você está mudada. Por onde andou?

—Por aí... - ela respondeu, evasiva, mas se endireitou ao ver o olhar irritado dele. —Estive na Itália, aí segui pelo Oriente Médio e depois Hong-Kong, via Bangcoc. Fiquei um pouco na Austrália e na Nova Zelândia e dei um pulo nas ilhas do Pacífico. Passei um mês no Taiti. Depois atravessei os Estados Unidos e, nos últimos meses, fiquei nas Antilhas.

Ele meneou a cabeça.

—Não sei por que eu não me despedi.

—Porque, para dizer as coisas como elas são, você não liga a mínima para os outros - disse Dragan Armanskij com um tom objetivo.

Lisbeth Salander mordeu os lábios. Ficou um momento pensativo. O que ele estava dizendo talvez fosse verdade, mas mesmo assim sentia que a acusação era injusta.

—Em geral, os outros é que não ligam a mínima para mim.

—Que nada - respondeu Armanskij. —Você tem um problema de atitude e trata feito lixo quem realmente tenta ser seu amigo. É simples assim.

Silêncio.

—Quer que eu vá embora?

—Faça como quiser. É o que você sempre fez. Mas se for embora agora não quero te ver nunca mais.

Súbito, Lisbeth Salander teve medo. Sentiu que aquele homem, que ela respeitava, estava rejeitando-a. Não sabia o que dizer.

—Faz dois anos que Holmer Palmgren teve o derrame. Você não foi visitá-lo nem uma vez - prosseguiu Armanskij, inexorável.

Lisbeth fitou Armanskij com olhos repentinamente chocados.

—Palmgren está vivo?

—Quer dizer que você nem sabe se ele está vivo ou morto?

—Os médicos disseram que ele...

—Os médicos disseram muita coisa sobre ele - interrompeu Armanskij. —Ele estava muito mal e não podia se comunicar. Neste último ano, o estado dele melhorou bastante. Está com dificuldade para falar, gagueja, e a gente tem que prestar muita atenção para entender o que ele diz. Precisa de ajuda para muita coisa, mas pode ir ao banheiro sozinho. As pessoas que se importam com ele vão visitá-lo.

Lisbeth ficou calada. Fora ela quem achara Palmgren sem sentidos em seu apartamento, quando ele tivera o ataque dois anos atrás. Chamara a ambulância, e os médicos tinham balançado a cabeça dizendo que o prognóstico não era nada animador. Na primeira semana, ela acampara no hospital até um deles lhe dizer que Palmgren estava em coma e havia pouquíssimos sinais indicando que ele haveria de acordar um dia. Naquele momento, deixara de se preocupar e o riscara de sua vida. Levantara-se e deixara o hospital sem olhar para trás. E ao que parece, sem conferir os fatos.

Franziu o cenho. A partir de então o Dr. Nils Bjurman começara a perturbar sua vida, e o canalha tinha monopolizado boa parte de sua atenção. Mas ninguém, nem mesmo Armanskij, lhe dissera que Palmgren ainda vivia, e muito menos que talvez estivesse se recuperando. Quanto a ela, nunca sequer aventara essa possibilidade.

De repente sentiu os olhos se encherem de lágrimas. Nunca tinha se achado tão desprezível, pequena e egoísta. E nunca tinha levado uma bronca num tom tão duro e contido. Abaixou a cabeça.

Permaneceram calados por alguns instantes. Foi Armanskij quem quebrou o silêncio.

—Como você está?

Lisbeth deu de ombros.

—Está vivendo do quê? Está trabalhando?

—Não, não estou trabalhando e não sei em que tipo de coisa quero trabalhar. Mas tenho dinheiro suficiente para me virar.

Armanskij perscrutou-a com seu olhar penetrante.

—Só passei para dar um oi... não estou procurando trabalho. Não sei... ainda assim, eu talvez gostasse de fazer um serviço para você, se uma hora você precisar de mim, mas teria de ser algo interessante.

—Imagino que você não queira me contar o que aconteceu em Hedestad no ano passado?

Lisbeth não disse nada.

—Aconteceu alguma coisa. O Martin Vanger morreu num acidente de carro depois que você esteve aqui pedindo equipamento de vigilância emprestado porque vocês tinham sofrido ameaças. E a irmã dele ressuscitou dos mortos. Que foi um furo, isso foi.

—Eu prometi não falar sobre isso. Armanskij assentiu com a cabeça.

—E imagino que você também não possa falar sobre o seu papel no caso Wennerström?

—Eu ajudei o Super-Blomkvist nas pesquisas. - A voz dela esfriou de repente. —Só isso. Não quero ser envolvida.

—Mikael Blomkvist procurou por você feito louco. Liga pelo menos uma vez por mês para saber se tive notícias suas. Ele também está apreensivo.

Lisbeth ficou calada, mas Armanskij notou que sua boca se transformara num traço rígido.

—Não sei o que pensar sobre esse homem - prosseguiu Armanskij. —Mas, como eu, ele se preocupa seriamente com você. Encontrei com ele no outono. Ele também não queria falar sobre Hedestad.

Lisbeth Salander não queria falar sobre Mikael Blomkvist.

—Só passei para dar um oi e comunicar que estou de volta à cidade. Não sei se vou ficar. Aqui está o número do meu celular e o meu novo endereço de e-mail, se precisar falar comigo.

Ela estendeu um papel para Armanskij e se levantou. Ele o pegou. Ela já tinha alcançado a porta quando ele a chamou.

—Espere um pouco. O que você vai fazer?

—Vou visitar Holger Palmgren. - Muito bem. Mas eu quis dizer... que trabalho?

Ela olhou para ele com um olhar pensativo.

—Não sei.

—Mas você precisa ganhar a vida.

—Já disse que tenho o suficiente para me virar. Armanskij se recostou na poltrona e refletiu. Tratando-se de Lisbeth Salander, ele nunca sabia direito como interpretar suas palavras.

—Fiquei tão furioso depois que você sumiu que praticamente decidi nunca mais contar com você... —Ele fez uma careta. —Você não é confiável. Mas é uma fuçadora excepcional. Tenho um trabalho que talvez lhe interesse.

Ela balançou a cabeça. Mas voltou para a mesa dele.

—Eu não quero seu trabalho. Quero dizer, não estou precisando de dinheiro. Falando sério. Sou financeiramente independente.

Dragan Armanskij franziu o cenho num gesto de dúvida. Por fim, meneou a cabeça.

—Certo, você é financeiramente independente, seja lá o que isso signifique. Acredito na sua palavra. Mas se precisar de trabalho...

—Dragan, você é a segunda pessoa que eu procurei desde que voltei. Não preciso do seu dinheiro. Agora, durante anos você foi uma das raras pessoas que eu respeitei.

—Está bem. Mas todo mundo precisa ganhar a vida.

—Sinto muito, mas não estou mais interessada em fazer investigações para você. Só me chame se estiver com um problema de verdade.

—Que tipo de problema?

—Um problema do tipo que você não consegue resolver. Se empacar, se ficar sem saber o que fazer e a situação for desesperadora. Para eu trabalhar para você, teria de me oferecer uma coisa que me interesse. Quem sabe na linha da intervenção.

—Intervenção? Você? Que desaparece sem deixar rastro quando bem entende?

—Pare com isso. Eu nunca furei depois de aceitar um trabalho. Dragan Armanskij fitou-a, desamparado. A noção de unidade de intervenção era um jargão deles que significava trabalho de campo. Ia desde proteção cerrada por um guarda-costas até missões de vigilância particular em exposições de arte. Sua equipe de intervenção constituía-se de veteranos robustos e sólidos, não raro com um passado na polícia. Além disso, noventa por cento eram homens. Lisbeth Salander era o extremo oposto de todos os critérios que ele estabelecera para o pessoal das unidades de intervenção da Milton Security.

—Bem... - disse ele, hesitante.

—Não precisa ficar quebrando a cabeça. Só aceito trabalhos que me interessem, quer dizer que as chances de eu recusar são altas. Avise-me se estiver com um problema realmente difícil. Eu sou boa em enigmas.

Girou os calcanhares e saiu pela porta. Dragan Armanskij balançou a cabeça. Ela é doida mesmo. Doida de atar.

No instante seguinte, Lisbeth Salander estava de novo à sua porta.

—A propósito... Dois dos seus homens ficaram um mês protegendo aquela atriz, a Christine Ruterford, do louco que escreve cartas de ameaça anônimas para ela. Pelos detalhes que o remetente sabe da vida dela, vocês estão achando que é coisa de uma pessoa próxima.

Dragan Armanskij fitou Lisbeth Salander. Uma corrente elétrica percorreu seu corpo. Lá vem ela de novo. E falando de um assunto que ela não tinha mesmo como conhecer. Ela não pode estar sabendo.

—Ééé...?

—Esqueça. É uma farsa. Ela e o namorado é que escrevem as cartas para chamar a atenção. Ela vai receber mais uma carta daqui uns dias e eles vão deixar vazar para a imprensa na semana que vem. Tem grandes chances de ela acusar a Milton por esse vazamento. Você deveria riscá-la da sua lista de clientes.

Antes que Dragan Armanskij tivesse tempo de formular uma pergunta, ela já havia sumido. Ele fitou a porta vazia. Ela não tinha como saber do caso Ruterford. Obviamente, tinha um informante dentro da Milton. Mas ele próprio, o chefe do grupo de intervenção e as poucas pessoas que estavam investigando as ameaças... eram todos profissionais seguros e confiáveis. Armanskij coçou o queixo. Ou então, por um incrível acaso, ela talvez conhecesse Christine Ruterford ou algum amigo dela, ou...

Ele olhou para a sua mesa de trabalho. O dossiê do caso Ruterford estava trancado a chave na gaveta. A mesa era ligada ao alarme. Mordeu os lábios, pensativo, verificou novamente as horas e concluiu que Harry Fransson, o chefe do setor técnico, já tinha ido embora. Abriu o programa de correio eletrônico e mandou uma mensagem para Fransson, pedindo que ele instalasse em sua sala uma câmera de vigilância oculta no dia seguinte.


Lisbeth voltou direto para casa, na Fiskaregatan. Apressou o passo, com um súbito sentimento de urgência.

Ligou para o hospital de Söder e, depois de algum tempo insistindo em diferentes setores, conseguiu localizar Holger Palmgren. Ele estava há catorze meses no centro de reabilitação de Ersta. Vieram-lhe à mente imagens da casa de saúde onde sua mãe estivera internada, não devia ser muito diferente. Quando ligou, disseram que ele estava dormindo, mas que ela poderia ir visitá-lo no dia seguinte.

À noite, Lisbeth ficou andando para lá e para cá no apartamento. Sentia-se incomodada. Finalmente, foi se deitar cedo e adormeceu quase imediatamente. Acordou às sete horas, tomou uma ducha e foi tomar o café da manhã no 7-Eleven. Por volta das oito, foi à locadora de Ringvagen. Eu preciso ter um carro. Alugou o mesmo Nissan Micra no qual tinha ido buscar as coisas de sua mãe.

Sentiu um súbito nervosismo ao estacionar no centro de Ersta, mas criou coragem, entrou na recepção e pediu para visitar Holger Palmgren.

A recepcionista, Margit, de acordo com o crachá, consultou uns documentos e explicou que ele estava na sessão de fisioterapia e só voltaria depois das onze. Lisbeth poderia aguardar na sala de espera ou então voltar mais tarde. Lisbeth retornou ao estacionamento, sentou-se no carro e fumou três cigarros enquanto esperava. Às onze horas, voltou à recepção. Indicaram-lhe o refeitório, à direita no corredor e depois à esquerda.

Parou na porta e procurou Holger Palmgren com os olhos no refeitório semivazio. Seu rosto estava voltado em sua direção, mas toda a sua atenção se concentrava num prato. Ele segurava o garfo com mão desajeitada e fazia um esforço enorme para levar os alimentos à boca. Fracassava em média uma a cada três vezes, derrubando o conteúdo do garfo.

Estava sombrio e prostrado, e aparentava ter cem anos. O rosto parecia estranhamente rígido. Estava numa cadeira de rodas. Só então Lisbeth Salander aceitou o fato de que ele estava vivo e que Armanskij não havia mentido.


Holger Palmgren blasfemou intimamente quando, pela terceira vez, tentou juntar com o garfo uma porção de macarrão gratinado. Aceitava o fato de não poder andar e não poder realizar uma série de gestos. Mas odiava não conseguir comer direito e babar que nem bebê.

Racionalmente, sabia o que precisava fazer. Inclinar o garfo na direção certa, empurrar, erguer e levá-lo à boca. Mas havia um problema de coordenação. A mão parecia ter vida própria. Quando ele dava a ordem de levantar, a mão empurrava lentamente para o lado. Quando levava o garfo à boca, a mão mudava de direção na última hora e escapava para a bochecha ou o queixo.

Mas ele sabia que a fisioterapia estava dando resultados. Apenas seis meses antes, sua mão tremia de tal maneira que ele não conseguia levar uma garfada à boca sozinho. Atualmente, as refeições ainda transcorriam devagar, sem dúvida, mas ele já conseguia se alimentar sozinho. Não tinha a intenção de desistir enquanto não recuperasse o controle de todos os seus membros.

Estava baixando o garfo para juntar mais uma garfada, quando uma mão adiantou-se por trás, pegando o garfo com delicadeza. Reconheceu imediatamente a mão fina de boneca, virou-se e deu com os olhos de Lisbeth Salander a menos de dez centímetros de seu rosto. Seu olhar era de expectativa. Ela parecia angustiada.

Palmgren permaneceu imóvel alguns instantes, fitando o rosto dela. Seu coração de repente pôs-se a bater de um jeito incrível. Então ele abriu a boca e aceitou o alimento.

Ela o alimentou, garfada por garfada. Em geral, Palmgren detestava ser assistido nas refeições, porém compreendeu a necessidade de Lisbeth Salander. Não se tratava dele, um fardo impotente. Ela o alimentava numa espécie de gesto de humildade - atitude afetuosa extremamente rara nela. Preparava as garfadas no tamanho certo e esperava que ele acabasse de mastigar. Quando ele apontou o copo com o canudo, ela o estendeu calmamente para que ele bebesse.

Não trocaram uma palavra durante toda a refeição. Quando ele engoliu a última garfada, ela largou o garfo e o interrogou com os olhos. Ele fez que não com a cabeça. Não, obrigado, não quero mais.

Holger Palmgren se recostou na cadeira de rodas e respirou profundamente. Lisbeth pegou o guardanapo e limpou-lhe a boca. De repente ele se sentiu como o padrinho da máfia de um filme americano a quem um capo di tutti capi manifestasse seu respeito. Imaginou-a depositando um beijo em sua mão, e essa imagem esquisita o fez sorrir.

—Você acha que é possível conseguir um café? - ela perguntou. Ele gaguejou. Seus lábios e língua não queriam articular corretamente os sons. Sua boca estava rígida.

—Crinho dsrvs ncan. Carrinho de serviço ali no canto.

—Você quer? Com leite e sem açúcar como antes?

Ele fez que sim com a cabeça. Ela retirou a bandeja e voltou um minuto depois com duas xícaras de café. Ele reparou que ela estava tomando café preto, o que era inusitado. Sorriu ao ver que ela guardara o canudo do copo de leite para a xícara de café. Não falaram nada. Holger Palmgren tinha mil coisas para dizer, mas de repente era incapaz de articular uma sílaba que fosse. Em compensação, os olhos dos dois se cruzaram várias vezes. Lisbeth Salander parecia estar se sentindo tremendamente culpada. Por fim, ela quebrou o silêncio.

—Eu pensei que você tivesse morrido - disse. — uro, eu não sabia que você estava vivo. Se eu soubesse, jamais teria... eu teria vindo te visitar há muito tempo.

Ele meneou a cabeça.

—Me perdoe.

Ele meneou a cabeça novamente. Sorriu. Um sorriso enviesado, uma curvatura de lábios.

—Você estava em coma e os médicos diziam que ia morrer. Achavam que ia morrer dali a vinte e quatro horas, e eu simplesmente fui embora. Será que um dia você vai conseguir me perdoar?

Ele ergueu a mão e colocou-a sobre a mãozinha de Lisbeth. Segurou-a com firmeza, apertou-a e enfim respirou.

—Ctim smidu. Você tinha sumido.

—Você conversou com o Dragan Armanskij. Ele assentiu com a cabeça.

—Eu viajei. Fui obrigada a ir embora. Não me despedi de ninguém e me fui, simplesmente. Você ficou preocupado comigo?

Ele balançou a cabeça.

—Você nunca vai ter que se preocupar comigo.

—Nca mprocpei. Cesempr sdabe. Mas Armsji tva procpad. Eu nunca me preocupei. Você sempre se dá bem. Mas o Armanskij estava preocupado.

Ela sorriu pela primeira vez e Holger Palmgren relaxou. Era o seu sorriso de esguelha de sempre. Ele a examinou, comparou a lembrança que tinha dela com a moça que via à sua frente. Ela havia mudado. Estava bem-arrumada, limpa e cuidada. Não estava mais com a argola no lábio e... hmm... a tatuagem do marimbondo no pescoço também sumira. Ela estava com um jeito adulto. Súbito, ele riu pela primeira vez em muitas semanas. Parecia um acesso de tosse.

O sorriso de Lisbeth ficou ainda mais oblíquo e então ela sentiu um calor lhe invadir o coração, um calor que havia muito não sentia.

—Ceci deube. Você se deu bem. Apontou para as roupas dela. Ela assentiu.

—Estou me dando muito bem.

—Cmé unov ttor? Como é o novo tutor?

Holger Palmgren viu o rosto de Lisbeth se alterar e ensombrecer. A boca se contraiu um pouco. Ela olhou para ele com olhos cândidos.

—E legal... estou com ele na palma da mão.

As sobrancelhas de Palmgren se contraíram em um ponto de interrogação. Lisbeth olhou em redor, a sala de jantar, e mudou de assunto.

—Faz quanto tempo que você está aqui?

Palmgren não tinha nascido ontem. Sofrera um derrame e estava com dificuldade para falar e coordenar os movimentos, mas sua capacidade de compreensão estava intacta e seu radar captou de imediato a mudança no tom de voz de Lisbeth Salander. Nos anos em que convivera com ela, aprendera que ela nunca mentia diretamente, mas que tampouco era inteiramente sincera. Seu jeito de mentir consistia em desviar a atenção. Era óbvio que o novo tutor não constava na sua lista de pessoas preferidas. O que não surpreendia Holger Palmgren nem um pouco.

Súbito, sentiu-se triste. Diversas vezes tivera a intenção de entrar em contato com seu colega Nils Bjurman para perguntar como ia Lisbeth Salander, e se abstivera outras tantas vezes. E por que não questionara a colocação de Lisbeth sob tutela, quando ainda tinha energia para fazê-lo? Sabia por que - muito egoisticamente, queria manter-se em contato com ela. Gostava daquela pivete danada de complicada como se fosse a filha que ele não teve, e queria um motivo para manter esse contato. E agora também era muito difícil, e pesado demais para um fardo como ele, numa casa de saúde, começar a investigar a situação, no estado em que se achava, sem sequer conseguir abrir sozinho o zíper da calça quando ia ao banheiro. Tinha a impressão de que, na verdade, ele é que traíra Lisbeth Salander. Mas ela ainda sobrevive... É a pessoa mais competente que já conheci.

—O trbn.

—Não entendi.

—O tribnal.

—O tribunal? O que você quer dizer?

—Temq nul su cl... colc colcas...

O rosto de Holger Palmgren ficou vermelho e se contorceu, porque ele não conseguia articular as palavras. Lisbeth pôs a mão em seu braço e apertou-o suavemente.

—Holger... Não se preocupe comigo. Tenho planos de cuidar em breve da minha colocação sob tutela. Não é mais tarefa sua se preocupar com isso... mas é possível que eu precise dos seus conselhos no momento oportuno. Está bem assim? Você pode ser meu advogado se eu precisar de você?

Ele balançou a cabeça.

—Mto vlho. - Ele bateu na mesa com as articulações da mão. — Vlho... bbo.

—Sim, você vai ser um velho bobo babaca se adotar essa atitude. Preciso de um advogado. E é você que eu quero. Você pode não conseguir fazer um arrazoado no tribunal, mas vai poder me aconselhar quando preciso. Combinado?

Ele balançou a cabeça mais uma vez. E depois, assentiu.

—Ta tra?

—Não entendi.

—Ta trab nquê? Não Rmskich. Está trabalhando no quê? Não é com o Armanskij.

Lisbeth hesitou um instante, enquanto pensava na melhor maneira de explicar a situação. Estava ficando complicado.

—Holger, não estou mais trabalhando para o Armanskij. Não preciso mais trabalhar para ele para ganhar o meu pão. Tenho dinheiro e estou bem.

As sobrancelhas de Palmgren se contraíram outra vez.

—Pretendo vir te visitar regularmente a partir de agora. Vou te contar... mas vamos com calma. Agora, neste momento, tem outra coisa que estou com vontade de fazer.

Ela se inclinou, puxou uma sacola para cima da mesa e lá de dentro tirou um tabuleiro de xadrez.

—Faz dois anos que não tenho a oportunidade de ganhar de você.

Ele se resignou. Ela estava tramando alguma coisa suspeita que não queria contar. Tinha certeza de que ela seria reticente, mas também confiava nela o suficiente para saber que o que quer que Lisbeth fizesse, embora pudesse ser juridicamente duvidoso, não seria um crime contrário às Leis de Deus. Pois, à diferença da maioria das pessoas, Holger Palmgren tinha certeza de que Lisbeth Salander era uma pessoa autenticamente moral. O problema era que a moral dela nem sempre correspondia ao que preconizava a lei.

Ela dispôs o tabuleiro à sua frente e ele percebeu, com um choque, que era o seu próprio tabuleiro. Ela provavelmente o roubara no seu apartamento depois do derrame. Como recordação? Ela lhe passou as brancas. Súbito, sentiu-se feliz como um garoto.


Lisbeth Salander permaneceu duas horas com Holger Palmgren. Já o derrotara três vezes quando uma enfermeira veio interromper a batalha dos dois em torno do tabuleiro, explicando que estava na hora da sessão de fisioterapia da tarde. Lisbeth juntou as peças e dobrou o tabuleiro.

—A senhora poderia me dizer no que consiste essa fisioterapia? - perguntou à enfermeira.

—Exercícios musculares e de coordenação. E estamos fazendo progressos, não estamos?

A pergunta era endereçada a Holger Palmgren. Ele meneou a cabeça.

—O senhor já consegue andar vários metros. No verão, vai poder passear sozinho no parque. É a sua filha?

Os olhos de Lisbeth e Holger se cruzaram.

—Fi dtiva. Filha adotiva.

—Que bacana você ter vindo. Tradução: caraca, por onde você andou esses meses todos?

Lisbeth ignorou a crítica subentendida. Inclinou-se e beijou-o no rosto.

—Venho te ver na sexta-feira.

Holger Palmgren se levantou da cadeira de rodas com esforço. Ela foi com ele até o elevador, e ali se separaram. Assim que as portas do elevador se fecharam, ela correu para a recepção e pediu para falar com o responsável. Indicaram-lhe um certo Dr. A. Sivarnandan, que ela encontrou numa sala mais adiante no corredor. Apresentou-se e explicou que era a filha adotiva de Holger Palmgren.

—Eu queria saber como ele está e o que vai acontecer com ele.

O Dr. Sivarnandan abriu a pasta de Holger Palmgren e leu as primeiras páginas. Tinha a pele marcada pela varíola e um bigode fino que irritava Lisbeth. Acabou levantando os olhos. Surpreendentemente, falava com sotaque finlandês. Lembrava, sem tirar nem pôr, uma personagem do Moomin.*

—Não tenho aqui nenhum registro de que o sr. Palmgren tenha uma filha, ou filha adotiva. Na verdade, seu parente mais próximo parece ser um primo de oitenta e seis anos residente no Jámtland.

—Ele cuidou de mim desde os meus treze anos até ter o derrame. Nessa época eu tinha vinte e quatro.

Ela procurou no bolso interno do casaco e jogou uma caneta na mesa, diante do Dr. A. Sivarnandan.

—Meu nome é Lisbeth Salander. Anote na pasta dele. Sou sua parente mais próxima neste mundo.

—Pode ser - respondeu A. Sivarnandan, inabalável. —Mas se você é a parente mais próxima, vamos reconhecer que demorou para dar notícias. Até onde eu sei, só uma pessoa, que nem é da família, vem visitá-lo de vez em quando. É a pessoa que deve ser avisada caso o estado dele se agrave ou ele venha a falecer.

—Dragan Armanskij, sem dúvida.

O Dr. A. Sivarnandan ergueu as sobrancelhas e meneou pensativamente a cabeça.

—O nome é esse. Então você o conhece.

—Pode ligar para ele e verificar quem eu sou.

—Não vai ser necessário. Acredito em você. Me contaram que você ficou duas horas jogando xadrez com o sr. Palmgren. Mas, seja como for, não posso falar com você sobre o estado de saúde dele sem que ele consinta.

—Ele nunca que vai consentir, teimoso como é, essa mula velha. Ele cismou que não tem que me passar os sofrimentos dele e que ainda é responsável por mim, não o contrário. Vou lhe explicar... por dois anos, pensei que Palmgren estivesse morto. Só ontem soube que estava vivo. Se eu tivesse sabido que... é difícil explicar, mas quero saber qual é o prognóstico e se ele vai se recuperar.

O Dr. Sivarnandan pegou a caneta e anotou minuciosamente o nome de Lisbeth Salander na pasta de Holger Palmgren. Pediu o número de sua identidade e do telefone.

—Está bem, agora você é oficialmente a filha adotiva dele. Talvez não seja lá muito conforme as regras, mas afinal você é a primeira pessoa que vem visitá-lo desde o Natal, quando o Sr. Armanskij esteve aqui... Você o viu há pouco e pôde constatar que ele tem problemas de coordenação e dificuldade para falar. Ele teve um derrame cerebral.

—Eu sei. Fui eu que o encontrei e chamei a ambulância.

—Ah... Pois saiba que ele passou três meses na UTI. Ficou em coma por um longo período. No mais das vezes, os pacientes não costumam sobreviver, mas acontece. Ao que parece, não era a hora dele. Primeiro foi transferido para um serviço de geriatria para doentes crônicos totalmente incapazes de cuidar de si mesmos. Contra todas as expectativas, apresentou sinais de melhora e então o transferimos para a fisioterapia, nove meses atrás.

—E o prognóstico?

O Dr. A. Sivarnandan afastou as mãos num gesto de impotência.

—Para isso eu teria que ter uma bola de cristal melhor do que a minha. Para ser sincero, não faço a menor idéia. Ele pode ter outro derrame esta noite e estar morto amanhã de manhã. Como pode ter uma vida relativamente normal por mais vinte anos. Não sei. Digamos que Deus é quem decide.

—E se ele viver mais vinte anos?

—A fisioterapia tem sido árdua para ele, e só nos últimos meses é que pudemos notar uma sensível melhora. Há seis meses, ele ainda não conseguia comer sozinho. Há um mês, praticamente não conseguia se levantar da cadeira, inclusive porque seus músculos se atrofiaram pelo tanto que ele permaneceu de cama. Hoje ele pelo menos consegue andar distâncias curtas.

—Ele vai ficar melhor?

—Vai. Bem melhor, até. Foi difícil transpor o primeiro degrau, mas agora observamos progressos a cada dia que passa. Ele perdeu quase dois anos de vida. Daqui alguns meses, no verão, espero vê-lo passeando sozinho ali no parque.

—E a fala?

—O problema é que o centro da palavra foi atingido, junto com a motricidade. Ele permaneceu muito tempo em estado vegetativo. Depois, foi estimulado a readquirir o controle de seu corpo e a reaprender a falar. Tem dificuldade em se lembrar do termo que precisa usar, vai ter que se reapropriar das palavras. Mas também não é como ensinar uma criança a falar - ele compreende o sentido da palavra, só não consegue expressá-la. Dê a ele mais uns meses e vai ver que a fala vai melhorar muito se comparada com hoje. A mesma coisa quanto à orientação. Nove meses atrás, era difícil para ele perceber a diferença entre direita e esquerda, e subir ou descer de elevador.

Lisbeth meneou a cabeça, pensativa. Refletiu alguns minutos e de repente se deu conta de que gostava do Dr. A. Sivarnandan, com sua cara de índio e sotaque finlandês.

—O que significa o A.? - perguntou bruscamente. Ele lançou-lhe um olhar divertido.

—Anders.

—Anders?

—Eu nasci no Sri Lanka, mas fui adotado em Àbo quando tinha poucos meses.

—Muito bem. Anders me diga no que posso ajudar o Holger.

—Visite-o. Ofereça-lhe um estímulo intelectual.

—Posso vir todos os dias.

—Não quero você aqui todos os dias. Se ele gosta de você, prefiro que ele se anime com a expectativa das visitas, e que elas não o aborreçam.

—Será que algum tipo de tratamento especializado poderia aumentar as chances dele? Eu pago o que for preciso.

Ele sorriu de repente para Lisbeth Salander, e então, também de repente, voltou a ficar sério.

—Receio que o tratamento especializado sejamos nós mesmos. Claro que eu gostaria de dispor de mais recursos e que parassem de cortar a nossa verba, mas posso garantir que ele tem sido tratado com muita competência.

—E se não houvesse essa preocupação com o corte de verbas? O que poderiam lhe oferecer?

—Se eu dispusesse dos recursos necessários... bem, o ideal para pacientes como Holger Palmgren seria, evidentemente, um terapeuta ocupacional particular em tempo integral. Mas faz muito tempo que não dispomos de verbas para esse fim na Suécia.

—Contrate um.

—Como?

—Contrate um terapeuta ocupacional para Holger Palmgren. O melhor. E faça isso amanhã. Providencie para que ele tenha o necessário em termos de equipamento técnico, essas coisas todas. Vou fazer que o dinheiro para o salário dele e o equipamento necessário seja depositado antes do final da semana.

—Isso é alguma brincadeira?

Lisbeth fitou o Dr. Anders Sivarnandan com seus grandes olhos inexpressivos, destituídos de qualquer traço de humor.

Mia Bergman freou e parou o Fiat rente à calçada em frente à estação de metrô Gamla Stan, no seu caminho de volta para casa. Dag Svensson abriu a porta e sentou-se no banco do passageiro. Inclinou-se e deu-lhe um beijo enquanto ela movimentava o carro de volta para o fluxo de automóveis, pondo-se atrás de um ônibus.

—Oi - disse ela, sem tirar os olhos do trânsito. - Você estava com uma cara séria quando eu cheguei. Aconteceu alguma coisa?

Dag Svensson suspirou e pôs o cinto de segurança.

—Não, nada sério. Estou penando um pouco com o texto.

—Ou seja?...

—Só falta um mês para o deadline. Fiz nove das vinte e duas confrontações previstas. Estou tendo problemas com o Björck, da Säpo. O babaca está de licença médica e não atende o telefone em casa.

—Será que ele não está no hospital?

—Não sei. Você por acaso já tentou conseguir uma informação na Säpo? Eles nem sequer confirmam se o cara trabalha para eles.

—Você não tentou os pais dele?

—Mortos, os dois. Ele não é casado. Tem um irmão que mora na Espanha. O fato é que não sei o que fazer para encontrar o Björck.

Mia Bergman deu uma olhada de esguelha para o companheiro, enquanto pilotava o carro pelo cruzamento da Slussen em direção ao túnel de Nynáshamnsleden.

—Na pior das hipóteses, a gente tira a parte sobre o Björck. O Blomkvist faz questão que todos os caras que vamos citar tenham a oportunidade de serem ouvidos antes de serem denunciados.

—Seria uma pena deixar de lado um representante da polícia secreta frequentador das putas. O que você vai fazer?

—Procurar por ele, e encontrar, claro. E você, como andam as coisas?

—Mais calma que eu, só morrendo. Ele fez cócegas nas costelas dela.

—Não está nervosa?

—Nem um pouco. Daqui a um mês vou defender minha tese e virar doutora, e me sinto absolutamente serena.

—Você domina bem o assunto. Então, por que se preocupar?

—Dê uma olhada no banco de trás.

Dag Svensson se virou e viu uma sacola. Enfiou a mão lá dentro e...

—Mia... está pronta! - ele exclamou. E agitou no ar uma tese impressa.

Da Rússia com amor Tráfico de mulheres, crime organizado e medidas adotadas pelas autoridades por Mia Bergman

—Pensei que só fosse ficar pronta na semana que vem. Caramba... chegando em casa, temos que abrir uma garrafa de vinho. Parabéns, doutora.

Ele se inclinou e lhe deu outro beijo no rosto.

—Calma lá... Só vou ser doutora daqui a três semanas. E segure as suas mãos quando estou dirigindo.

Dag Svensson riu. E tornou a ficar sério.

—A propósito, só para dar uma de desmancha-prazeres... você entrevitou uma moça chamada Irina P., um ano atrás.

—Irina P, vinte e dois anos, de São Petersburgo. Veio à Suécia pela primeira vez em 1999, depois disso foi e voltou mais algumas vezes. Por quê?

—Estive hoje com o Gulbrandsen. O policial que conduziu a invesigação sobre o bordel de Södertálje. Você leu, semana passada, que eles acharam uma garota boiando no canal de Södertálje. Deu manchete nos jornais da tarde.

—Sei.

—Era a Irina P.

—Que horror!

Passaram em frente ao Skanstull em silêncio.

—Ela aparece na minha tese - disse afinal Mia Bergman. —Sob o pseudônimo de Tamara.

Dag Svensson abriu “Da Rússia com amor” na parte das entrevistas e folheou até chegar em Tamara. Leu concentradamente enquanto Mia passava por Gullmarsplan e Globen.

—Quem a trouxe para cá foi alguém que você chama de Anton.

—Não quis usar os nomes verdadeiros. Avisaram-me que posso ser criticada por isso na defesa, mas não quero divulgar o nome das garotas. Elas correriam o risco de ser espancadas até a morte. Portanto, também não posso divulgar o nome dos canalhas: eles iam descobrir rapidinho que garotas eu entrevistei. Por isso só ponho pseudônimos e pessoas anônimas em todos os meus estudos de caso, sem detalhes particulares.

—Quem é Anton?

—Ele provavelmente se chama Zala. Nunca consegui identificá-lo, mas acho que é polonês ou iugoslavo, e que na verdade seu nome é outro. Falei com Irina P. quatro ou cinco vezes, e foi só no quarto encontro que ela me deu o nome dele. Ela estava botando a vida em ordem e pretendia parar com tudo, mas tinha um medo tremendo dele.

—Hmmm... - fez Dag Svensson.

—Hmmm o quê?

—Estou pensando... Topei com o nome de Zala uma semana, ou duas atrás.

—Onde?

—Fiz uma confrontação com o Sandström. Você sabe o escroto do cliente jornalista. Droga. Esse cara é um verdadeiro calhorda.

—Como assim?

—Na verdade, ele não é jornalista. Ele cria folhetos publicitários para empresas. Mas tem umas fantasias realmente doentias ligadas a estupro, que ele põe em prática com essa garota...

—Eu sei. Fui eu que a entrevistei.

—Bem, mas você sabe que foi ele que coordenou a produção de um folder sobre doenças sexualmente transmissíveis para o Instituto de Saúde Pública?

—Eu não sabia.

—Encurralei o cara na semana passada. Um verdadeiro lixo. Claro, ele desabou quando peguei toda a documentação e perguntei por que ele usa putas menores de idade dos países do Leste europeu para praticar suas fantasias. Ele acabou me dando uma espécie de explicação.

—Ah, é?

—No passado, Sandström se viu numa situação em que não era apenas cliente da máfia do sexo, mas também lacaio. Ele me deu os nomes que conhecia e mencionou o nome de Zala. Não falou nada em especial sobre ele, mas não é um nome muito comum.

Mia Bergman olhou-o de relance e franziu o cenho.

—Você não sabe quem ele é? - perguntou Dag.

—Não. Não consegui identificar. Continua sendo só um nome que surge de vez em quando. As mulheres parecem morrer de medo dele e ninguém falou nada.

—Hmm - fez Dag Svensson.

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