I. ENCONTRO NUM CORREDOR 8 A 12 DE ABRIL


Calcula-se em seiscentos o número de mulheres soldados que combateram na Guerra de Secessão. Alistaram-se travestidas de homem. Hollywood deixou passar batido todo um aspecto da história cultural — ou será que esse aspecto incomoda muito do ponto de vista ideológico? Os livros de história sempre tiveram dificuldade em falar de mulheres que não respeitam os padrões de gênero, e em nenhuma área essa limitação é tão evidente como na guerra e no que se refere ao manejo de armas.

No entanto, da Antigüidade aos tempos modernos a história é fértil em relatos protagonizados por guerreiras — as amazonas. Os exemplos mais conhecidos constam nos livros de história em que essas mulheres têm o estatuto de "rainhas", ou seja, de representantes da classe no poder. Com efeito, a sucessão política regularmente coloca uma mulher no trono, por mais desagradável que essa verdade soe. Sendo as guerras insensíveis ao gênero e ocorrendo até mesmo quando uma mulher dirige o país, o resultado é que os livros de história são obrigados a registrar certo número de rainhas guerreiras levadas, conseqüentemente, a se comportar como qualquer Churchill, Stálin ou Roosevelt. Semíramis de Nínive, fundadora do Império Assírio, e Boadiceia, que liderou uma das mais sangrentas revoltas contra os romanos, são dois exemplos. Esta última, aliás, tem uma estátua à margem do Tâmisa, em frente ao Big Ben. Não deixemos de cumprimentá-la caso estejamos passando por ali.

Em compensação, os livros de história são, em geral, bastante discretos sobre as guerreiras que atuaram como simples soldados, exercitando-se no manejo das armas, integrando os regimentos e participando das batalhas contra exércitos inimigos em condições idênticas às dos homens. Essas mulheres, contudo, sempre existiram. Praticamente nenhuma guerra foi travada sem alguma participação feminina.


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